Se há sustentabilidade na Luz, como alega Rui Costa, não se podia ter esperado por um ano melhor de mercado? E o ordenado do jovem, metade do de Jurasek por exemplo, não poderia ter sido aumentado?
A ideia que transparece do discurso de Rui Costa é a de que o Benfica tudo fez para segurar João Neves até que surgiu um valor que se tornou inevitável. Sobre a inevitabilidade do valor, muito se poderia dizer, mas fiquemo-nos pela simples contabilidade de que 60 milhões era metade do valor estabelecido na cláusula que constava no contrato do jovem jogador com as águias.
Começam aqui as contradições. Ora, estando o mercado em baixa, como o presidente dos encarnados sublinhou, sendo o Benfica, atualmente, como também o próprio destacou, um clube sustentado financeiramente e, por fim, estando na Liga dos Campeões, não poderia o emblema da Luz segurar uma das suas estrelas maiores, nem que fosse por mais um ano, vendendo-o depois em alta?
E a inevitabilidade dos ordenados superiores no estrangeiro não poderia, também, ser atenuada, permitindo por mais uns tempos uma permanência mais confortável da jovem pérola da formação, “o Joãozinh” que Rui Costa conhece “desde os 10 anos”?
Se há a disponibilidade para ordenados de topo para jogadores que deixam dúvidas entre adeptos, técnicos e, até, direção, porque não existe igual consideração por jovens promessas? É por virem da formação? É por terem de provar mais do que os outros?
João Neves ganhava 1 milhão de euros (brutos) por ano. Metade do que ganhava Jurasek. Quase um terço do que ganhava Enzo Fernández ou Marcos Leonardo e do que ganha Otamendi. Um quarto do vencimento de Arthur Cabral. E sete vezes menos do que Di María, um campeão do Mundo, sim, mas… de 36 anos.
Não, o Benfica não fez tudo para segurar João Neves.
E, no meio de tudo isto, alvo recente de ataques cerrados, Rui Costa vê a sua posição fragilizar-se quando parece estar sempre a justificar-se, usando nestes casos mais sensíveis os órgãos oficiais da instituição. Que não lhe perguntam sobre o custo da teimosa permanência de Di María ou sobre se algo foi realmente feito para segurar João Neves. É, assim, natural que se adense entre parte dos adeptos um clima de desconfiança relativamente às suas reais capacidades de liderança.